12 junho 2011

O Brasil explicado em galinhas...

Pegaram o cara em flagrante roubando galinhas
de um galinheiro e o levaram para a delegacia.

D - Delegado
L - Ladrão

D - Que vida mansa, hein, vagabundo?
Roubando galinha para ter o que comer
sem precisar trabalhar. Vai para a cadeia!

L - Não era para mim não. Era para vender.

D - Pior, venda de artigo roubado...
Concorrência desleal com o comércio
estabelecido. Sem-vergonha!

L - Mas eu vendia mais caro.

D - Mais caro?

L - Espalhei o boato que as galinhas do
galinheiro eram bichadas e as minhas
galinhas não. E que as do galinheiro
botavam ovos brancos enquanto as minhas
botavam ovos marrons.

D - Mas eram as mesmas galinhas, safado.

L - Os ovos das minhas eu pintava.

D - Que grande pilantra... (mas já havia um
certo respeito no tom do delegado...)

D - Ainda bem que tu vai preso. Se o dono do
galinheiro te pega...

L - Já me pegou. Fiz um acerto com ele.
Me comprometi a não espalhar mais boato
sobre as galinhas dele, e ele se comprometeu
a aumentar os preços dos produtos dele para
ficarem iguais aos meus. Convidamos outros
donos de galinheiros a entrar no nosso esquema.
Formamos um oligopólio... Ou, no caso, um ovigopólio...

D - E o que você faz com o lucro do seu negócio?

L - Especulo com dólar.
Invisto alguma coisa no tráfico de drogas.
Comprei alguns deputados. Dois ou três ministros.
Consegui exclusividade no suprimento de galinhas
e ovos para programas de alimentação do governo e
superfaturo os preços.

O delegado mandou pedir um cafezinho para o preso e
perguntou se a cadeira estava confortável, se ele não
queria uma almofada. Depois perguntou:

D - Doutor, não me leve a mal, mas com tudo isso, o
o senhor não está milionário?

L - Trilionário. Sem contar o que eu sonego de Imposto
de Renda e o que tenho depositado ilegalmente no
exterior...

D - E, com tudo isso, o senhor continua roubando
galinhas?

L - Às vezes. Sabe como é.

D - Não sei não, excelência. Me explique.

L - É que, em todas essas minhas atividades, eu sinto
falta de uma coisa. O risco, entende? Daquela
sensação de perigo, de estar fazendo uma coisa
proibida, da iminência do castigo. Só roubando
galinhas eu me sinto realmente um ladrão, e isso
é excitante. Como agora fui preso, finalmente vou
para a cadeia. É uma experiência nova.


D - O que é isso, excelência? O senhor não vai ser preso não.

L - Mas fui pego em flagrante pulando a cerca do galinheiro!

D - Sim. Mas primário, e com esses antecedentes...


(Luis Fernando Veríssimo)

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